O Presidente da Endesa alerta que algumas medidas para reduzir as rendas da energia são “contraproducentes”. Suspensão do pagamento das garantias de potência, medida imposta pela troika, deverá conduzir a um novo aumento das tarifas do gás em 2015.
O sector eléctrico está em transição para um sistema de preços liberalizado. Como tem corrido este processo?
Tem sido atribulado, se tivermos em conta que já levamos dez anos neste processo. Pelo meio, os governos decidiram congelar a convergência de preços que estava em curso, o que levou a um atraso na passagem dos clientes do mercado com preços administrados para o mercado livre. E tendo em conta que os preços no mercado regulado eram mais baixos do que os preços no mercado livre, as pessoas não tinham qualquer estímulo a sair, pelo contrário. Depois há outros problemas de fundo.
Quais, concretamente?
Como a estrutura dos preços da electricidade. Neste momento cerca de 55% do valor na factura reflecte custos que não dependem das empresas. Apenas cerca de 45% reflecte o custo da electricidade. Na componente fixa – os tais 55% – existem os impostos, que são hoje a maior fatia, representando cerca de um terço do custo final da electricidade. Os restantes 22% ou 23% são custos que temos de incorporar, resultantes de medidas que os governos tomam, como o pagamento da cogeração, das renováveis, às regiões autónomas, aos municípios. Onde podemos concorrer é no custo que temos da produção de electricidade. Se eu consigo ser 10% mais eficiente nos custos de produção de electricidade do que o meu concorrente, na realidade esses 10% só se vão reflectir num desconto que possa fazer ao cliente em 4,5% da factura, porque 55% são custos fixos.
E em termos de concorrência?
Há uma vantagem para o incumbente, neste caso a EDP, relativamente aos novos operadores. A EDP tem a base total dos clientes do serviço universal e, para mudá-los para a EDP Comercial – o comercializador da EDP em mercado livre –, basta um clique no computador. Os novos comercializadores têm um gasto à volta de 70 euros para conquistar um novo cliente.
A balança energética do país é desequilibrada. Como perspectiva esta questão a médio ou longo prazo?
Temos uma balança muito deficitária. Hoje, essa dependência não tem tanto a ver com o sector eléctrico. As renováveis reduziram bastante o consumo de combustíveis fósseis e o sector é o que mais tem contribuído para uma diminuição do défice da balança energética do país, que tem atingido valores entre oito e nove mil milhões de euros por ano. Mas o contributo das renováveis tem sido sobretudo na área da electricidade, que representa 25% da energia que o país consome.
Como é que Portugal pode ultrapassar esta dificuldade?
Pelo caminho actual, não temos uma perspectiva de inverter esta situação de forma muito sensível. Embora haja coisas que podem e devem ser feitas. A primeira é prosseguir e intensificar as medidas de política energética no sentido de estimular o uso mais eficiente da energia. Uma segunda medida pode passar por estender o uso das fontes renováveis para além do sector da electricidade. Pouco tem sido feito. É fundamental que haja um esforço de usar painéis solares para produzir calor nas casas e edifícios, um segmento que representa cerca de 25% do consumo final de energia.
E nos transportes?
É essencial. O sector dos transportes é o que mais consome energia no país e o que mais depende de combustíveis fosseis. Aqui, poderá haver a promoção da mobilidade eléctrica, onde as fontes renováveis têm um contributo muito grande. E programas para o uso dos biocombustíveis e de carros mais eficientes.
Uma reforma imposta pela troika foi a redução das rendas na energia. Como vê esta medida?
É um processo complexo, porque no fundo há um conjunto de medidas dirigidas a vários sectores que decorreram da intervenção da troika. Umas de carácter mais ponderado e estruturado, outras mais voluntaristas e algumas até contraproducentes, como por exemplo terem suspendido o pagamento da chamada taxa de disponibilidade, ou garantia de potência, das centrais térmicas convencionais. Isto levou a que essas centrais, nomeadamente a gás, deixassem de funcionar. E como não funcionam, todos os custos da infra-estrutura vão recair sobre os consumidores domésticos e industriais.
Portanto, o preço do gás vai aumentar novamente em 2015?
Sim. É um tema de que não se tem falado, mas muito complicado. No estabelecimento das tarifas de gás no próximo ano, os consumidores vão ter de suportar os custos do sistema de gás nacional, dado que as eléctricas não estão a usá-lo.
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Nuno Ribeiro da Silva, presidente da Endesa: 'Renováveis dev
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Re: Nuno Ribeiro da Silva, presidente da Endesa: 'Renováveis
Artigo interessante e que deixa no ar mais preocupações para os consumidores.